Cheguei em Londres na quarta a noite, e na quinta de manha eu já estava empregada, para comecar na segunda-feira. Parece que gostaram de mim. Mas, errr... Vida de garconete nao é lá aquela aventura toda que eu estava esperando, nem as pessoas amigáveis, para muita gente aquilo ali era o único emprego possível e chegando "mais uma estrangeira" e falando ingles de cara (porque a maioria nao sabia era nada mesmo), e com uma educacao muito diferente dos que já estavam lá, bem, essa vida durou um mes, e eu dei gracas a Deus quando acabou.
The Lanesborough |
Depois do hotel, consegui um emprego de recepcionista numa churrascaria. Foram 5 meses de escravidao, trabalhava 12horas/dia, em pé, sem direito a sentar, 15 minutos de descanso a tarde e 15 minutos a noite. Para dar conta, ia ao banheiro mais vezes do que precisava e dava umas cochiladas de 3 minutos para reanimar. E esqueci de dizer, trabalhando em churrascaria, mas sem direito a comer. Também nao pagavam hora extra. Nos meus dias de folga eu queria cortar meus pés fora, nao podia trabalhar de tenis, tinha um tailleur de uniforme e o sapato tinha que combinar. Foi ali que conheci pela primeira vez o que eram varizes. Todas as que eu tenho hoje, nasceram ali, naquela churrascaria. Saía do emprego fedendo a grill, queria lavar o cabelo todas as noites, mas o cansaco me vencia quase sempre. Ali eu resolvi, emprego que fede, nunca mais.
Gaucho Grill Canary Wharf |
Naquele ponto eu já sentia muita falta das coisas de casa, do cabelereiro onde ia todas as semanas para fazer massagens, das manicures e pedicures, limpeza de pele, comida de casa... Eu tinha que encontrar algum grau de normalidade e dar um jeito de arrumar uma grana com aquelas 20 horas. Por algum motivo que nem eu mesma sei, voltar para o Brasil era fora de questao. Era em Londres que eu queria viver, só que uma vida normal, e eu sabia que isso levaria tempo para acontecer. E encontrei a solucao perfeita, dentro do que a minha situacao me permitia. Dois empregos de 20 horas, um na livraria e outro no salao de beleza.
O bom é que na Inglaterra essas coisas sao comuns e dá para conciliar. Eu trabalhava na livraria pela manha de terca a sábado, e no salao alguns dias variáveis na parte da tarde e da noite. Beleza! Salário fixo, férias, ambientes agradáveis e descontos em livros e tratamentos e produtos de beleza de graca! O que mais eu poderia querer????
Já falei da livraria em posts antigos, ali eu fiquei 3 anos, até ir para a Itália pegar meus documentos. Eu amava trabalhar com as freiras e, a bem da verdade, adorava quando as pessoas me confundiam com elas. Até hoje sinto muita falta daquele ambiente, mas principalmente das Irmas Paulinas.
O salao de beleza também foi ótimo para eu ver que nunca precisaria gastar meu dinheiro com tratamentos nas maos de inglesas. Elas nao sabem fazer nada e tem a parede coberta de diplomas exigidos por lei. Eu tinha direito a dois tratamentos de graca por mes, mas sempre que entrava na salinha as meninas faziam alguma outra coisa ao mesmo tempo. As limpezas de pele nao limpavam nada, as manicures e pedicures super mal-feitas, esmalte pra tudo que era lado, menos cobrindo as unhas. Acho que só gostei mesmo foi de tingir as sombrancelhas e os cílios, ficaram lindos! Mas caíram tanto, que desisti de continuar fazendo, com medo de ficar com os olhos carecas. A salvacao é que em Londres nao faltam saloes brasileiros. Nao tive a mesma sorte no deserto do NM.
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