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sábado, 24 de julho de 2010

Empregos de Imigrante - Parte I

Quando a aventura comeca, tudo é festa!  Saí do Brasil com um endereco para procurar emprego como garconete num hotel de luxo, com indicacao e tudo.  Feliz da vida, depois de ter bons empregos no Brasil, em empresas sólidas e ganhando razoavelmente,  eu estava mesmo tirando férias da minha vida, partindo para uma viagem com a qual sempre sonhei.  Sempre achei o máximo relatos de pessoas que passaram um período fora e fizeram "bicos" para se virar.  Achei que as outras pessoas que fosse encontrar estariam na mesma condicao que eu, e de bem com a vida...

Cheguei em Londres na quarta a noite, e na quinta de manha eu já estava empregada, para comecar na segunda-feira.  Parece que gostaram de mim.  Mas, errr...  Vida de garconete nao é lá aquela aventura toda que eu estava esperando, nem as pessoas amigáveis, para muita gente aquilo ali era o único emprego possível e chegando "mais uma estrangeira" e falando ingles de cara (porque a maioria nao sabia era nada mesmo), e com uma educacao muito diferente dos que já estavam lá, bem, essa vida durou um mes, e eu dei gracas a Deus quando acabou.

The Lanesborough
Decidida a nao carregar mais bandejas, fui procurar outra coisa.  As outras brasileiras com as quais tive contato quando cheguei estavam todas nos cascos comigo: "como assim nao quer ser garconete? Por que voce pensa que é melhor do que a gente? Como é que voce já fala ingles? Nao pense que vai encontrar outra coisa nao".  E até a amiga com quem estava morando parou de falar comigo porque eu nao queria trabalhar de garconete.  Isso porque ela estava lá com um emprego "normal" de arquiteta, por ter passaporte italiano, e eu cheguei lá com visto de estudante, com limitacoes de trabalho atreladas ao meu visto, nao era qualquer lugar que aceitava um esquema de 20 horas/semana.  O porque dela ter ficado com tanta raiva por eu querer fazer outra coisa seria um outro post enorme, sobre um assunto completamente diferente.  Pena.

Depois do hotel, consegui um emprego de recepcionista numa churrascaria.  Foram 5 meses de escravidao, trabalhava 12horas/dia, em pé, sem direito a sentar, 15 minutos de descanso a tarde e 15 minutos a noite.  Para dar conta, ia ao banheiro mais vezes do que precisava e dava umas cochiladas de 3 minutos para reanimar.  E esqueci de dizer, trabalhando em churrascaria, mas sem direito a comer.  Também nao pagavam hora extra.  Nos meus dias de folga eu queria cortar meus pés fora, nao podia trabalhar de tenis, tinha um tailleur de uniforme e o sapato tinha que combinar.  Foi ali que conheci pela primeira vez o que eram varizes.  Todas as que eu tenho hoje, nasceram ali, naquela churrascaria.  Saía do emprego fedendo a grill, queria lavar o cabelo todas as noites, mas o cansaco me vencia quase sempre.  Ali eu resolvi, emprego que fede, nunca mais.

Gaucho Grill Canary Wharf

Naquele ponto eu já sentia muita falta das coisas de casa, do cabelereiro onde ia todas as semanas para fazer massagens, das manicures e pedicures, limpeza de pele, comida de casa...  Eu tinha que encontrar algum grau de normalidade e dar um jeito de arrumar uma grana com aquelas 20 horas.  Por algum motivo que nem eu mesma sei, voltar para o Brasil era fora de questao.  Era em Londres que eu queria viver, só que uma vida normal, e eu sabia que isso levaria tempo para acontecer.  E encontrei a solucao perfeita, dentro do que a minha situacao me permitia.  Dois empregos de 20 horas, um na livraria e outro no salao de beleza.

O bom é que na Inglaterra essas coisas sao comuns e dá para conciliar.  Eu trabalhava na livraria pela manha de terca a sábado, e no salao alguns dias variáveis na parte da tarde e da noite.  Beleza!  Salário fixo, férias, ambientes agradáveis e descontos em livros e tratamentos e produtos de beleza de graca!  O que mais eu poderia querer????

Já falei da livraria em posts antigos, ali eu fiquei 3 anos, até ir para a Itália pegar meus documentos.  Eu amava trabalhar com as freiras e, a bem da verdade, adorava quando as pessoas me confundiam com elas.  Até hoje sinto muita falta daquele ambiente, mas principalmente das Irmas Paulinas.

O salao de beleza também foi ótimo para eu ver que nunca precisaria gastar meu dinheiro com tratamentos nas maos de inglesas.  Elas nao sabem fazer nada e tem a parede coberta de diplomas exigidos por lei.  Eu tinha direito a dois tratamentos de graca por mes, mas sempre que entrava na salinha as meninas faziam alguma outra coisa ao mesmo tempo.  As limpezas de pele nao limpavam nada, as manicures e pedicures super mal-feitas, esmalte pra tudo que era lado, menos cobrindo as unhas.  Acho que só gostei mesmo foi de tingir as sombrancelhas e os cílios, ficaram lindos!  Mas caíram tanto, que desisti de continuar fazendo, com medo de ficar com os olhos carecas.  A salvacao é que em Londres nao faltam saloes brasileiros.  Nao tive a mesma sorte no deserto do NM.

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