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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Observacoes (quase) Antropologicas - Churrasco no Novo México, ou A Matanza – Parte 2

Quando se fala da comida preparada e servida durante uma típica Matanza é importante notar que a fritura e os grelhados sem pimenta sao as iguarias mais palatáveis para quem nao está acostumado com esses regionalismos. Quase tudo tem pimenta, um tipo que dizem só existe aqui, mas eu me abstenho de falar sobre ou provar esse assunto.




Um dos pratos típicos da cozinha local e indispensável em qualquer Matanza: Chicharrones, fritos pelos presentes ao longo da festa, e todos tem que ajudar.  É pele de porco frita na própria banha (e eu esqueci de pegar um pote de banha para levar para casa. Buáááá!). Existe um tacho gigantesco para essa fritura coletiva - a família inteira mexe o tacho, alternando criancas, adultos, jovens e nao tao jovens. Sempre soube que pele de porco frita resulta em torresmo. Só que isso que estavam fazendo aqui resultava em uns pedacinhos de carne suculentos enquanto quentes, e crocantes quando frio (bom demais!). E em nada me lembrava um torresmo da tia Leda. Se isso tem outro nome no Brasil, por favor me avisem pois estou por fora, nunca vi. Eu adorei (se é fritura, to dentro. Fica feliz o meu colesterol 340).
                                                                                                                                                        

Estava muito frio, eu vestia um casaco que mais parecia um edredon portátil, e nao queria chegar perto do fogo com medo de voar alguma faísca e incendiar o casaco comigo dentro.  Tolinha...  Fui intimada por um dos primos do Gerald a ajudar a escorrer a gordura das peles fritas.  Segundo ele, esse era o meu “rito de iniciacao” para ser aceita como um membro da família.  Entao tá, né?  Tirei o casaco, e lá fui eu para a beira do fogo, morrendo de medo de estragar alguma coisa e ainda me sujar.  Realmente, para tudo tem uma primeira vez.


A operacao é o seguinte: pela manha joga-se a pele de porco no tacho, fogo já aceso.  A pele vai soltando a própria gordura e o negócio todo comeca a ferver.  Em momento algum pode parar de mexer.  A família vai se revezando na atividade de mexer o caldeirao.  Tem gente que aguenta mais, tem gente que aguenta menos tempo, mas todo mundo tem que dar um pouco do próprio suor naquilo ali – deve ser parte do tempero?  Depois de umas 4 ou 5 horas alguém decide que está pronto.  Vem o caubói com um escorredor, retira a pele do caldeirao aos poucos, e deposita tudo naquele saco de juta que duas pessoas seguram.  Voce tem idéia de quanta pele tem um porco adulto????  Cada um torce o “torniquete” para o lado oposto, espremendo bem a gordura.  E repete-se tudo até acabar. Nao pode deixar cair nem um chicharrone de volta no tacho senao a zoacao é geral.  Fiz isso por 2 horas e só caiu algum uma única vez.  Lógico que essa é que foi filmada.  Chama-se Infalibilidade da Lei de Murphy.


E, voilá!  O astro da festa (ao menos para mim):


Repararam na minha falta de jeito?  Só faltou um salto alto para me deixar mais desengoncada ainda.  Parece até que nasci pra isso (sim, claro).  Hoje, assistindo ao vídeo novamente, lembra até uma sessao de inciacao das bruxas com a “mexecao” coletiva do caldeirao.  Só faltou a vassoura para dar um toque...





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