Picture SNOWSHOEING IN SANTA FE (NEW MEXICO, USA, March 2010)

Vicky Mundo Afora ou Mundoafora? Nao importa. É vida de imigrante. O mundo eh tao grande. Por que deveria passar minha vida inteira no Rio de Janeiro? Preciso viver e falar outras linguas, viver com e como outras pessoas. Um dia eu volto. Para onde? Ora, para casa. Onde eh casa mesmo?



Picture credits on this blog go to my lovely husband, who has never enough of beautiful and interesting views all over the world. If a picture is not his, it will be linked to its original source.

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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Ouvinte e Falante

Uma vez li que 95% das pessoas sao do tipo Falante e 5% sao do tipo Ouvinte. Se essas estatisticas sao corretas, eu nao sei, por mim teria mais uma categoria, a dos Surdo-Mudo, gente que nao gosta nem de falar e nem de ouvir. Mas eu acho que as pessoas que fazem essas estatisticas nao tem la muita experiencia de vida e portanto nao podem classificar um comportamento que nunca viram ou erroneamente categorizam como problema mental, comportamental ou coisa do tipo.



Essa introducao toda so para dizer que eu preciso desabafar. Eu me enquadro no tipo Ouvinte com toda certeza. Eu gosto de ouvir e ficar quieta observando, nao por acaso sou uma cientista. O grande problema com isso eh que os Ouvintes precisam de um outro Ouvinte para desabafar. Porque ficamos calados ouvindo o desabafo dos nossos amigos, sentimos falta de receber o mesmo tipo de tratamento. E como eh muito dificil encontrar um outro Ouvinte, eu escrevo.

A vida entao muda, os paises sao outros, as culturas em torno de nos sao estranhas, e com isso ate a censura ao que precisamos falar aparece. E entao um amigo de verdade, de casa, faz falta. Mas nem todos os amigos sao Ouvintes, grande chance de serem Falantes, e quando acham que voce precisa de uma licao de moral, piora tudo porque se voce estiver sofrendo, vai ficar mais desconfortavel ainda. Eu fico irritadissima.



Um amigo Falante, que nao ouve o que voce precisa desabafar ou nao lhe deixa falar, nao eh necessariamente um mal amigo, soh um amigo com o qual voce nao pode ou nao deve contar para um desabafo. Os Falantes tem que falar sempre, falam pelos cotovelos, quando ninguem pediu a opiniao deles e muitos ate falam sem pensar. Quando eles desabafam, querem que o amigo que os ouve fale tambem, de opinioes, de conselhos. Se quiserem um Ouvinte que fique falando, isso tambem nao da muito certo. Dois Falantes desabafando entre si falam sem parar, e o mais comum eh nenhum dos dois ouvir o que o outro tem a dizer, mas esta tudo bem porque so estao colocando as palavras para fora, nao tem a necessidade de que alguem os ouca com atencao.

Falantes sao pessoas praticas, que tem que fazer as coisas. Ouvintes sao filosoficos, ficam remoendo as palavras dentro da cabeca, sao analiticos. Falar, para um Ouvinte, eh uma forma de organizar o pensamento dentro da cabeca e ajudar a tomar decisoes. Falamos PARA uma outra pessoa porque precisamos interagir com outras pessoas, somos humanos, ninguem vive sozinho. Um sorriso e um abraco sao as melhores respostas nesse caso. Um desabafo nao eh uma conversa, eh um instrumento de auto-ajuda. Ao menos para um Ouvinte.

The Phantoms of the Brain

De onde eu tirei essas ideias? Da minha observacao, ora bolas! E o que eu quero dizer com isso? Quero dizer que eu tambem sou gente e preciso que alguem me escute de vez em quando. Preciso de um abraco de um amigo, alguem que me escute olhando pra mim. ES-CU-TAR, e nao dar conselhos, me reeprender e tirar conclusoes do que eu nem consegui terminar de falar porque voce nao cala a boca para escutar. Desabafar eh uma forma que eu tenho de organizar meus pensamentos e o que eu preciso eh alguem que tenha empatia pelo que eu falo e que me deixe chorar se eu precisar. Se eu quiser conselho, eu peco. Se eu nao pedir, ouca e me de um abraco se eu chorar. Entendeu agora ou quer que eu desenhe?



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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Velho Bla Bla Bla - Expectativas no Exterior

O bom e velho bla bla bla de sempre: Qual eh o melhor pais para morar? Se 12 anos fora do Brasil me ensinaram alguma coisa, eu digo que isso nao existe. Nao existe pais melhor que o outro. As expectativas sobre morar no exterior variam muito de pessoa para pessoa. Existe, sim, pais onde voce encontra mais coisas que sejam compativeis com voce e suas expectativas. Talvez voce seja mais feliz por la. Talvez, porque muita gente romantiza o que vai encontrar fora do Brasil e tem expectativas irrealistas, terminando por se frustrarem com as experiencias vividas. Depende mesmo de cada um.

Ja falei aqui sobre o dia em encontrei uns goianos morando em Londres. Eles foram para la porque queriam ficar ricos e comprar "sitiozinho em Goias". Viviam 12 expremidos em um apartamento de 1 quarto e 1 banheiro, trabalhavam fazendo faxina e como motoboys, passavam os dias de folga fazendo churrasco na varanda ouvindo breganejo e falando mal da Inglaterra. A conversa deles era "quando voce acha que pode voltar ao Brasil?", nem passava pela cabeca daquele pessoal que alguem pudesse querer passar toda a vida no exterior. Nunca entraram na National Gallery ou passearam pelo Hyde Park. Desnecessario dizer que nenhum deles falava ingles - ou sequer se interessavam em aprender. Nao sabiam nem que fazia frio no inverno. Bem, o que eu tinha em comum com aquela turma? Com muita boa vontade encontro o fato de termos nascido no mesmo pais. E parava por ai mesmo. Nem a nossa lingua eu acho que era a mesma.

Rua em Chelsea, Londres

Os objetivos que cada um tinha sobre vida no exterior eram diametralmente opostos. As expectativas eram muito diferentes. Eu sonhei desde crianca em ir para a Inglaterra. Jah cheguei por lah falando ingles fluente. Conhecia a Historia e a cultura dos ingleses - jah desconfiava que muito do que aprendemos na Cultura Inglesa nao passava mesmo de lenda. Ja tinha a minha profissao e conhecia muito a respeito de Relacoes Internacionais e Historia em geral. Meu primeiro objetivo era crescer como pessoa e aprender tudo o que eu pudesse e, se possivel, ficar por la mesmo. Voltar para o Brasil sempre foi a minha ultima opcao. Nao achava que fosse encontrar um emprego de rainha no dia que chegasse em Londres, sabia que teria que trabalhar pesado, em coisas que nunca tive que fazer no Brasil. O fato de falar ingles me livrou das faxinas que normalmente sobram para os imigrantes. Eu era gerente de uma empresa no meu ultimo emprego no Brasil, mas tinha total consciencia que isso nao teria valor algum quando chegasse na Europa. Depois de um mes trabalhando como garconete, consegui um emprego de recepcionista - "cargo sofisticado" para quem acaba de chegar de outro pais, de acordo com a escala classificativa dos imigrantes sem perspectivas.

Passeio de Bicicleta pela City of London, junto com meu marido

Eu estava finalmente onde queria ter chegado a vida inteira: num lugar muito maior, cercado de Historia por todos os lados, tendo que me comunicar com pessoas de varias linguas e varias culturas, ao mesmo tempo, podendo viajar por lugares que sempre me instigaram. Toda a cena cultural de Londres era aquilo que eu sempre senti falta no Rio de Janeiro: ballet, opera, jazz, museus, arquitetura, tudo acessivel e que eu poderia aproveitar sozinha, caso nao encontrasse quem me acompanhasse no que eu gostava. Lugar seguro, com excelente transporte a noite inteira, eu saia para cima e para baixo sozinha a hora que bem entendia e sem correr risco algum. Se fosse soh pela seguranca, ja teria valido a pena. Mas era muito mais que isso. Eu estudei tanto, aprendi tanto, tive trabalhos divertidos e outros que me davam um monte de vantagens. Eu me virava sozinha, e muitas vezes tive ajuda de pessoas maravilhosas - que nao sao muitas, mas existem. Encontrei brasileiros de todo tipo, gente com a qual eu nunca teria contato se fosse no Brasil. E aprendi que nao era para ter contato mesmo, o fato de termos nascido no mesmo pais nao nos fazia iguais em nada. Aprendi tambem que quanto menos voce tem, mais as pessoas a sua volta, e na mesma situacao, se ajudam. Quanto mais as pessoas tem, menos elas se importam com os outros. Embora isso eu talvez tenha aprendido na minha familia mesmo.

No meio de tudo isso, eu trabalhava feito uma louca, quase 24/7, ganhando pouco, vivendo apertada, mas tao feliz. Eu sabia que as coisas cedo ou tarde se resolveriam e eu nao precisaria mais me preocupar com renovacao eterna de visto. Conquistei minha cidadania (com a grande ajuda da minha familia, no Brasil) e passei a ter uma vida normal de classe media, na Londres que tanto amava. E tinha gente achando que eu estava "fugindo", e que era "impossivel" gostar de Londres porque la era um lugar "horrivel". Eu sinto muito pela opiniao deles, eu estava onde queria estar, e aquele era o melhor lugar do mundo para mim. So que isso nao eh igual para todo mundo.

Por do Sol de verao, no deserto do Novo Mexico, com meu marido nativo


Casei, mudei para os EUA porque meu marido eh americano. Eu nunca sonhei em vir para esse pais, nem de ferias, nunca sonhei em ir a Disney. Talvez por isso mesmo eu nunca me decepcionei aqui, ja sabia o que ia encontrar.

Hoje, o futuro a Deus pertence. E eu sei que fui atras do que me faz feliz, sabendo o que estava fazendo, ao inves de esperar que a felicidade aparecesse na minha frente.

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