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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Essa Divina Comedia Humana

Sem querer entrar no mérito das intencoes dantescas (coitado, lido na flor dos meus 15 anos numa edicao resumida e editada para "a juventude" e já devidamente esquecido), mas Danilo Gentili tocou numa questao muito interessante, que nao é para ser lido só na superfície.  Tudo bem que isso depende dos olhos de quem le e a maioria continua na mesma fazendo compania a própria vida.  Nem todo mundo entende o que é dito clara e diretamente, falta muito mais do que o simples comando da linguagem.  Nao posso trancrever aqui o maravilhoso texto porque é enorme, entao para saber do que estou falando é necessário se remeter a esse blog aqui e ler o post do dia 19 de fevereiro.  Fiquei orgulhosa em le-lo, existem sim "celebridades" nao-mediocres no Brasil.

Na era do politicamente correto, as pessoas mais obtusas e politicamente corretas sao os maiores humoristas, pois eles nao pensam nos próprios absurdos que falam.   O politicamente correto acha o que sai da sua boca um discurso sério!!!  É uma censura nao-verbalizada e invertida.  O melhor humor nao arranca gargalhadas, ele poe um sorriso no canto da sua boca mesmo, aprendi isso depois de muito estranhamento com os ingleses.  Um dos comentários no post do Gentilli diz: "eu sou contra a censura, mas esses humoristas nao tem respeito por nada, tem que ser censurados mesmo pois nao tem limites".  Afff, censura precisava era num comentário desses.  Só sendo um Humorista de categoria para deixar passar e rir disso.

Entendo bem a frustracao do Danilo mas nem tudo sao flores na terra do Tio Sam.  O americano que ri dos speeches do jantar dos correspondentes na Casa Branca nao é o mesmo que é personagem principal em "Forest Gump" ou que atua diariamente em "Idiocracy".  Será que eu sou a única pessoa da face da terra a achar Forest Gump um filme depressivo?  Eu fiquei com mais medo do mundo onde vivo depois de assistir aquilo.  O medo da mediocridade é o meu maior fantasma.  Eu saí do Brasil fugindo dele (gracas ao Pai, nunca mais precisei ouvir um funck depois que fui embora), e hoje me encontro imersa até o pescoco.  Eu sou obrigada a assistir "Idiocracy" todas as vezes que ligo a televisao, toda vez que vou ao supermercado ou sento num restaurante para jantar.  O Big Brother existe e é real.  O triste é precisar esclarecer que falo do BB de George Orwell, e nao o da Endemol.

Eu me surpreendo sim com essa liberdade de ser no país-berco do infame "politicamente correto".  Acho sim que é produto da democracia, as pessoas tem o direito de escolha de serem mediocres e o direito de nao ser, vá lá.  Nao acho que o público no Brasil  seja mais estúpido que o americano.  As estatísticas vao apresentar as mesmas porcentagens em cada lugar (se alguém tivesse a coragem e cara-de-pau de avaliar uma coisa dessas, queria saber como), só que nos EUA se tem a liberdade de ser o que quer ser e continuar com a sua vida como sempre foi.  E no Brasil voce tem a obrigacao de ser medíocre, ou perde o emprego, a comida, a casa e o direito de viver na compania dos que tem e querem ter os olhos vendados.  Voce nao quer ficar isolado e se submete, e no fim de alguns anos nao ve mesmo nada de errado em se submeter pois, do contrário, viveria em paz com sua consciencia e isolado na sua loucura privada.  Nao haveria válvula de escape, e voce passaria a ser personagem de outra obra prima da literatura mundial "O Processo", de Franz Kafka (roteiro que aprendi ao vivo na Itália, na Treviso, aquela mesma do Inferno de Dante).

A reflexao e frustracao de Danilo Gentili me remete a funcao do "Bobo" das cortes medievais: figura que serve de válvula de escape da sociedade, com liberdade para dizer "o indizível". O comediante deve apontar para o próprio umbigo e suas próprias falas.  Nao é atirando na foto do vizinho que está de costas e com a cabeca coberta por um véu e assim, falando do que nao viu e nao sabe nada a respeito, inventando um personagem próprio com características suavizadas - e medíocres. Só olhando para o próprio umbigo é que se é capaz de crescer e evoluir. Mas é também mais feio, mais complicado e mais assustador.  Dá mais trabalho (e Macunaíma tá com uma preeguiiicaaaa...).  O ato do avestruz nao faz ninguém progredir ou reconhecer suas próprias falhas. Morando 9 anos na Inglaterra e querendo melhorar o meu ingles a minha meta nao era assistir o Big Brother, mas sim poder rir com o Private Eye e o Have I Got News for You?.  Só assim voce é capaz de conhecer uma outra cultura e língua.  E nao através da gramática sozinha.



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2 comentários:

  1. To gostando do seu blog... Vou ler com tempo.Obrigado pela visita.

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  2. I'm appreciate your writing style.Please keep on working hard.^^

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Vou adorar saber o que voce achou do post acima. Nao seja tímido e deixe o seu comentário.

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